terça-feira, 7 de abril de 2009

Casamentos e outros quinhentos

Não há nada mais piroso que uma noiva com unhas de gel daquelas com joaninhas para condizer com as joaninhas coladas nas pétalas de todas as rosas vermelhas (nhac) do ramo. Ou melhor, há. A noiva pode sempre contribuir para a preservação de ninhos e construir um com a sua farta cabeleira, natural ou aos remendos. E a noiva pode decidir-se por jóias de plástico, tipo fio de pesca com enfiaduras de lantejoulas, porque os rubis são do tempo das avós e não se pode ir sem ser a condizer com as joaninhas. E a noiva pode levar umas sandálias com pendurezas vermelhas. E, quiçá, aceitar o desafio de entrar no Guiness como a mais enfeitada de todas as noivas e encomendar um vestido com pérolas vermelhas, iguais às que seguram os nomes das mesas no quadro de cortiça à entrada da Quinta. E podem ter escolhido uma música tipo "Eu sei, eu sei, és a linda portuguesa com quem eu quero casar... Já corri Mundo e não encontro outra igual com quem eu queira fica... A mais formosa, mais gostosa das mulheres que Deus pôde criar, ai a saudade e esperança de um dia voltar para te abraçar..." para o noivo lhe cantar depois do abraço da paz. E este pode ir de fraque reluzente para a cerimónia do meio dia. E os primos da terra podem ter todos mini fraques a condizer. E as meninas que os acompanham e completam o cortejo de infantes podem ir com o vestido da comunhão e com correntes que brilhem a cair pela testa abaixo. Para a coisa ser mesmo de sonho, eles podem ir de lua de mel para o Algarve, em Agosto. Aquela calmaria, aquele ar romântico emoldurado pelas camisolas de alças dos homens e os pareos gastos das mulheres, aquele por-do-sol visto pelas nesgas entre os chapéus ao som do pregão das bolas de Berlim só podem ajudar... E depois podem juntar-se a eles as respectivas famelgas, que eles assimcomássim têm a vida toda para falar e tá tudo mais ou menos em dia e é preciso conviver. Essa coisa de namorarem o silêncio e renderem-se a tardes infinitas só a contemplarem a vontade de se abraçarem é coisa de gente que não tem mais nada em que pensar. Quando chegam os convivas, aí sim... há passeatas até Espanha, aos parques aquáticos, carapaus a assar na brasa e todo o romantismo de panachés a clamar por mais. E lá para Setembro, se a semente for boa, já ela estará de barriga (de grávida) e ele contente a mandar sms aos amigos para comemorarem com um pires de tremoços. Pode ser lá em casa, para a patroa não se sentir sozinha. No fundo, ele é um romântico. E ela uma amorosa, menina para lhe dizer que não, não vale a pena. Vai sem te apoquentares. Fico aqui sem ralações. Até prefiro, que ao menos não há barulho à hora da novela. E assim vivem para sempre!

O drama, a tragédia, o horror... é vê-los cair que nem tordos. Àqueles e àquelas que há meia dúzia de anos juravam comigo que nunca na vida ia ser assim. Que, quando fosse, ia ser mágico. Que não ia haver cavalos na praia e velinhas a construir um caminho até ao "AMO-TE" escrito na areia, mas que andaria lá perto. O drama, a tragédia, o horror... é assistir caladinha. Porque não vale a pena. Tomaram-lhe o gosto. Espartilharam os sonhos. E ela quer a barriga e ele quer os tremoços. E é um amoroso se lhe lava o carro ao Domingo e não se chateia se ela for ao jantar do dia das mulheres. E ai de quem diga que não não é assim. Porque é delírio. Porque vê-se logo por que não casas. Porque disso não há. Porque mentaliza-te que não há mesmo nada para dizer ao fim de algum tempo. Então calem-se. Fiquem calados. Em silêncio. Juntinhos. Sozinhos. Só assim. De mãos dadas. Caladinhos. Até adormecerem. E acordarem. E perceberem como é bom estarem só ali pertinho. Tão juntinho. Assim quietinhos. E caladinhos. E... não. Não vale a pena. O que custa é vê-los assim. A eles e a elas. E perceber que não há-de faltar muito até não terem mesmo nada para se dizer. Porque amar, acho eu, que não percebo nada disto, também se treina. E é possível que se pensarem muito que ficar assim pertinho, caladinhos, só quietos e a sentirem-se é uma perda de tempo... isso um dia se transforme mesmo numa enorme perda do tempo deles.

Céus... livrai-me do fogo deste inferno!

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