domingo, 31 de maio de 2009

Razões para detestar o Verão

Estamos sempre suados;
A sair do banho já colamos;
A roupa é composta por umas tripas;
Os pés incham;
Fica-se mole;
As queimaduras doem;
Não tem natal;
Aparece toda a espécie de população portuguesa emigrada;
Há festas e arraiais e esses não passam sem foguetes;
Vai toda a gente para a praia e eu passo dois meses inteirinhos a corrigir exames e a fazer provas orais;
Apetece comer gelados e estes engordam;
Não pode haver deslizes com a depilação;
Não se admitem lascas no verniz dos pés;
O cabelo solto faz calor no pescoço;
Há incêndios (e deve haver poucas coisas que tema mais que isto)!
Não há transporte público que escape ao fedor de condição humana;
Não se pode trabalhar na minha biblioteca, porque parece uma sauna... e diz que faz mal estar nestes ambientes dias inteiros.

Eu não gosto de Verão!

Em compensação, eu amo Inverno!
Amo o frio. A neve. Os cachecois. As golas altas. As botas. Os casacos compridos. As meias opacas. Os gorros. O cabelo a aconchegar as orelhas. Os banhos quentes. As massagens com óleos mornos. O natal. Adoro saber que para o frio há remédio... é vestir mais uma camisolinha ou pôr uns collants. Amo lareira acesa. Trabalha-se bem de aquecedor aos pés e mantinha nos joelhos. Enquanto estou a penar nas salas de aula, sei que todo o cidadão normal se encontra, solidariamente, a vergar a mola. Os perfumes entranham-se nas lãs e são meio fumegantes. Faço anos. Sei por onde andam as minhas pessoas.

Burrinha que só ela...


Voltei à tradução do texto espanhol.
E parece que é coisa para durar.

Paixão secreta

Acordei com os primeiros pássaros,
já minha lâmpada morria.
Fui até à janela aberta e sentei-me,
com uma grinalda fresca
nos cabelos desatados...
Ele vinha pelo caminho
na névoa cor de rosa da manhã.
Trazia ao pescoço
uma cadeia de pérolas
e o sol batia-lhe na fronte.
Parou à minha porta
e disse-me ansioso:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, belo caminhante,
sou eu.

Anoitecia
e ainda não tinham acendido as luzes.
Eu atava o cabelo, desconsolada.
Ele chegava no seu carro
todo vermelho, aceso pelo sol poente.
Trazia o fato cheio de poeira.
Fervia a espuma
na boca anelante dos seus cavalos...
Desceu à minha porta
e disse-me com voz cansada:
— Onde está ela?
Tive vergonha de lhe dizer:
— Sou eu, fatigado caminhante,
sou eu.

Noite de Abril.
A lâmpada arde neste meu quarto
que a brisa do Sul
enche suavemente.
O papagaio palrador
dorme na sua gaiola.
O meu vestido é azul
como o pescoço dum pavão,
e o manto verde como a erva nova.
Sentada no chão, perto da janela,
olho a rua deserta ...
Passa a noite escura
e não me canso de cantar:
— Sou eu, caminhante sem esperança,
sou eu.

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões

DOIS DESTINOS

The Family Man, 2000, 115 Min

De: Brett Ratner

Com: Nicolas Cage, Tea Leoni, Don Cheadle, Jeremy Piven, Makenzie Vega, Saul Rubinek, Josef Sommer, Jake Milkovich, Ryan Milkovich, Lisa Thornhill, Harve Presnell, Mary Beth Hurt, Amber Valletta, Francine York, Ruth Williamson

E se...
Tivesse feito outra escolha?
Tivesse dito sim em vez de não?
Tivesse uma segunda oportunidade?
Há 13 anos, quando Jack Campbell (Nicolas Cage) partiu para Londres, para um prestigiado estágio, prometeu à sua namorada Kate (Téa Leoni) que só estariam longe um do outro durante um ano. É Natal, Jack vive sozinho e é um dos homens mais poderosos de Wall Street e Kate é apenas uma distante memória do passado. Parando numa loja a caminho de casa, Jack vê-se no meio de uma discussão entre o dono da loja e um jovem perturbado vagabundo Cash (Don Cheadle) que questiona os valores da vida de Jack. Chegado à segurança do seu apartamento de luxo, Jack adormece... acordando num apertado quarto dos subúrbios de New Jersey, ao lado de Kate, 13 anos mais velha, com um bebé a chorar no quarto ao lado e uma miúda de seis anos a chamar-lhe pai. E é só o princípio de uma longa lista de surpresas para Jack...


Daqui: http://icanread.tumblr.com/

Porque sim. Porque... podemos avançar sozinhos e até ser muito bem sucedidos nessa vida... Mas eu sonhei com a casa azul. E acho que posso ter visto, mais uma vez, o que seríamos juntos. E... escolho-nos a nós :)

Casa azul

Voltei a sonhar com a casa azul. E com a rede e as duas árvores maduras. Voltei a sonhar com três sorrisos ainda pequenos. E com dois cães. Numa manta de praia. Em tons de azul, verde e vermelho. Voltei a sonhar com o sumo de laranja. E com a brisa que traz afagos. Voltei a sonhar com a casa azul. A das ruínas, que reinvento nos sonhos de longe. Voltei a sonhar com a casa azul. E acho que também eras de lá!

insinceridade


quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

sábado, 30 de maio de 2009

Novas

De hoje a oito dias começa a saga dos casórios. Assim, tenho um no sábado, um na quarta e um no sábado seguinte. Uffa... não me esqueci de nada?!

Pois bem...

Sábado 6:
1) Vestido em segunda prova...
2) Sapatos OK
3) Carteira OK
4) Penteado OK
5) Jóias OK

Quarta 10:
1) Vestido OK (liiiiindooooooooo...)
2) Sandálias OK (10 cm... onde é que eu estava com a cabecinha?!)
3) Carteira OK
4) Penteado (solto, de véspera) OK
5) Jóias OK
6) Hotel em Bragança de 3.ª para 4.ª e de 4.ª para 5.ª OK

Sábado 13:
1) Vestido ?! (em estudo uma provável substituição)
2) Sandálias OK
3) Carteira OK
4) Penteado OK
5) Jóias OK

Comum:
1) Depilação... NADA OK! A tratar!
2) Manicure e pedicure ... Idem aspas!
3) Frescura e capacidade de me aguentar em cima de saltos... Difilmente se arranjará!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

... mas às vezes

... sinto que um dia acabará por ir o menino com a água do banho!

É mais ou menos isto...


London




Here i go... again!!!

P.S. É só em Agosto... não comecem já com a ciumeira :)

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Se

pudesse perguntar-lhe quem, o quê, quando e onde, apartava-me destas dúvidas de como e porquê.

terça-feira, 26 de maio de 2009


Ódio de estimação IV

Foguetes, tiros e rolhas a voar.

sábado, 23 de maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dolorosa criatura - a editora

Já fui à minha editora. Mesmo à sede. Cheirar o som das máquinas.
A minha P. tem um código penal de 1852 que me serviu de inspiração para umas quantas páginas do livrinho. É um código emocionalmente a meias com a minha P., esse código. Durante o tempo de execução da linda obra, o código da minha P. morou em minha casa, com um espaço de destaque na minha secretária. Quando acabei a coisinha, devolvi-o à minha P.. Quando me marcaram a defesa, voltei a pedir-lho. Quando fui mestre, devolvi-lho novamente. A rever as primeiras provas do livrinho, descobri que precisava do código da minha P. mais uma vez, porque... não sei... mas tinha ali dúvidas numa frase. Ora, a minha P. tinha acabado precisamente de levar o código, a desagregar-se, para encadernar... na minha editora!!! Fui intensamente gozada pela minha P. e pela minha C., que não me pouparam a farpas tipo "Houve três professores doutores a ler a obra, mas tu, só porque és mestre, achas que descobres um erro que eles ignoraram. Deves ter a mania!" Quem me conhece sabe que, num primeiro momento, posso até tentar assobiar para o ar e pensar noutras paragens, tentando mentalizar-me que se eu escrevi aquilo, se já li aquilo mais de 100 vezes e se os três camaradas da pesada nessas coisas do Direito não viram nada... é porque não há nada para ver. Mas depois, oh pessoal... só quem não me tiver ainda tirado a ficha. Vê-se logo que nem dormia, nem a comida me descia, nem eu sorria... enquanto não tirasse a teima... e a dúvida.
Pela fresca, pedi à minha P. o código. E a minha P. lá se pôs a pé para ir comigo ao Senhor Nunes, pedir para ver a página 656 do dito código velhinho, tipo relíquia, que lá está a encadernar. Até aqui, tudo certo. A questão é que quando cheguei a Coimbra para apanhar a minha P. e seguir para o destino, estava aflita para fazer chichi. Mas tão aflita que nem via, nem ouvia. Mas não pude parar até chegar à editora. Quando saí do carro, tinha um andar um tanto estranho e não parava de me confessar que ou me deixavam fazer chichi ou me dava uma coisa má. A minha P. decidiu então ir cumprimentar uma pessoa conhecida lá na editora para, como quem não quer a coisa, lhe perguntar de seguida onde era a casa de banho. Nesta hora, já eu ponderava pôr em causa a minha reputação logo ali na Rua do Arnado. Mas não. A minha P. lá encontrou a minha salvadora e foi de tentar meter conversa de circunstância. Mas ainda a senhora me estava para dar o segundo beijinho do primeiro connect já eu disparava, com uma voz agressiva mas um olhar de cadela abandonada, "Pode dizer-me onde é uma casa de banho?". Ora a senhora olha-me com algum espanto e explica que vai buscar a chave. Eu começo a suar frio e a imaginar-me numa triste figura logo ali. É que acaba-se já a carreira literária, R. Maria, que tu não és em condições de sair de casa. Pois que ao som das chaves a tilintar respondo com uma pronta desenvoltura para correr a meia maratona. E foi quase isso que andámos. Lá no fim de um pitoresco pátio que eu só consegui apreciar à vinda, estava uma casota fechadinha... que era uma casa de banho. A senhora abre a porta e eu entro desvairada. Nem fecho bem o trinco. Ao ouvir a minha P. matar o tempo daqueles segundos com tentativas de falar em coisas sérias, percebi que uma pessoa não é nada numa hora de aflição. Mas pronto. Tinha feito chichi. Lavo as mãozinhas e saio pronta para recuperar a dignidade própria de uma pessoa normal. Ora... e à saída da casa de banho estão agora, em amena cavaqueira, não apenas a salvadora e a minha P.... mas também... oh céus... um homem nunca visto. Pois que o cumprimento à pressa, sem o reconhecer, uma vez que nunca o tinha visto, e lá seguimos o nosso caminho para junto do Senhor Nunes, que tem o código da minha P., com a valiosa página 656. No trajecto, cai-me a ficha e a medo sussuro "Por acaso aquele senhor que acabei agora de cumprimentar é o Dr. X?". E sou informada que sim. E não desmaio, porque basicamente morro nesse momento. Em suma, eu conheci o meu editor, aquele do muito prazer e da família de autores, à porta de uma casa de banho, e cumprimentei-o com meia bola e força porque já só pensava na página 656 de um livro. Nem que grande gosto encontrá-lo pessoalmente, nem obrigadinha pelas gentilezas, nem vou tentar que aquilo venda e tenho pensado divulgar nos rodapés do Goucha, nem olhe que tem muito bom ar, nem cumprimentos lá para casa. Nada... a não ser o som de um autoclismo a encher!
Ok... semi-morta, lá sigo para o Senhor Nunes. Ora o Senhor Nunes olha-nos de lado, ninguém me tira da cabeça que maldizendo entredentes estas duas caramelas, e diz que o livro está todo cosidinho mas não se pode abrir ou escangalha-se todo. E eu... perdida por cem, perdida por mil... faço olhos de pequena Sereia e deixo escapar, como que inadvertidamente, um "mas era só uma página". Fartinho de me ver, o Senhor Nunes pergunta pela página. 656. É ela a tal! Pois o homem concentra toda a sua arte na mão que segura a lombada e abre com jeitinho o código na desejada. Eu, em posição de perder a guerra, começo a ler "a cópula consentida com menor de dezasseis anos, se não constituir estupro ou violação, é ainda punida como atentado ao pudor". E, em vez de seguir para baixo na folha, ao melhor género de confirmar 7 vezes se desliguei os bicos do fogão, repito autisticamente "a cópula consentida com menor de dezasseis anos, se não constituir estupro ou violação, é ainda punida como atentado ao pudor". À terceira, primo o botão vermelho da paciência do Senhor Nunes, que se despede com um "eu vou é tirar-lhe uma fotocópia". Parou tudo. Ai que o livro rebenta. Ai, oh Afonso! Mas nada feito, que o Senhor Nunes não está para aturar mais tempo gente tão tola. Saio de lá imensamente grata e perante os olhares de pena de quem vê a triste figura de uma mestre de trazer por casa. Despedimo-nos da salvadora e saímos. No passeio, a minha P. ri-se e eu repito, incessantemente, "a cópula consentida com menor de dezasseis anos, se não constituir estupro ou violação, é ainda punida como atentado ao pudor". O Senhor à nossa frente deixa cair a chave do carro e olha-me prontinho a zarpar. Entramos no meu carro e vamos à nossa vida. Chegamos à faculdade com a maior cara de pau, investidas do melhor ar de génias. Mas... lá está... se não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão, temo seriamente que o livrinho só saia se eu me der ao trabalho de o fotocopiar e de lhe meter uns clips para distribuir pelos amigos...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Verdades e assim-assim

Concedes na imensidão quando as angústias com os males do corpo te deixam espaço para penar com dores de alma!

Verdades e assim-assim

Problema é uma doença grave.

P.S. Livrai-nos, Senhor, desses problemas.

domingo, 17 de maio de 2009

Coisa amar

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

sábado, 16 de maio de 2009

Alemão?!


Se não sabes o que te move.
Se o que afirmas cai num saco roto de impossíveis.
Se é tudo certeza e eu duvido.
Se há mundo inteiro a dizer não.
Se se estende a já longa manta de "ses".
Se te descobres em melancolias e apegos.
Se há relances e ápices.
Se cumpres promessa de estar presente.
Se não te furtas a ser-me ali.
Se te curvas a um silêncio.

Desisto.
És alemão e eu... nem seja cão...
não estou agora para aprender isso, não.

Musa em férias

Mas quando o amor se torna em paixão verdadeira,
Puro como uma hóstia erguida sobre o altar,
Quando um amor domina uma existência inteira
Como a Lua domina os vagalhões do mar;
Quando é o amor radiante, esplêndido, que arvora
Em nossos corações um pavilhão d'aurora
Desdobrado no azul, quando é o amor profundo,
Um amor que nos veste uma rija armadura
Para se atravessar a batalha do mundo,
Como um leão atravessa uma floresta escura;
Então adoro o amor, de joelhos, como adora
No topo da montanha um índio o Sol doirado,
Porque um amor candente é uma hóstia d'aurora,
E o peito que o encerra é um sacrário estrelado!

Guerra Junqueiro

:)

"Ai, ai que tenho a palavra mesmo no início da língua!" - Kika crescida
"Na ponta, na ponta!!!" - Eu e a mãe (em uníssono)

Kikas

A minha kika minuin tem 5 anos e é minha afilhada. A minha kika minuin jantou ontem comigo. Ficámos a saber, nós e toda a gente que estava no restaurante da baixa de Coimbra Giuseppe e Joaquim, que os pais vão a Londres "descansar, namorar e fazer sexos".

A minha kika crescida é mana da minuin e também é minha afilhada. Tem 8 anos e já anda na escola. Adora português e também jantou comigo. Atreveu-se a completar a pérola da mana, alto e bom som, com "Sexos, no plural? Muitos sexos?"

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Juízes

Há... definitivamente... repito... gente que nunca na vida devia chegar a juiz. Porque o bom senso é coisa que CEJ nenhum consegue ensinar. Estou até agora com vontade de lhe ir à cara. Olhou arguido e defensor com uma superioridade tinhosa, leu a acusação com um enfado grosseiro e despachou a verdade, a justiça, o que se está mesmo a ver, com meia dúzia de palavrões jurídicos. Ainda não aprendeu que "quem de direito só sabe direito, nem direito sabe".

terça-feira, 12 de maio de 2009

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Antero de Quental

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Era um homem todo nu. Corria sem pressa, mas sem parar. Toda a cidade parava para não o ver. Só quando passava é que se voltavam e lhes parecia terem topado um tipo estranho. Mas não, se calhar era impressão. Era um homem todo nu. Não olhava bem nos olhos de muita gente. Só de uns quantos tristes eleitos para dar em doidos com os olhos a falarem em código. Era um homem todo nu. Há muito tempo, não seria, mas agora, era. Todo nu, a correr. Corre muito, sem pressa, mas sem parar. Não escolhe corridas. Corre por correr. Às vezes, lá pára num compromisso de homem nu. Todo nu. Houve dias de não correr, mas a pensar que sim. E na cidade, nesses dias, nem impressões se tinham. Outros, sim, correu. E na cidade brotaram teorias sobre o homem nu. Porque é pobre, porque é quente, porque é exibicionista, porque é desligado, porque sim, porque não. Era um homem todo nu. Parou poucas vezes a olhar. Viu ainda menos. Quando viu, parou. Mas era estranho ficar assim todo nu. Porque, todo nu, nunca tinha parado. Era um homem todo nu. Por estranho, sempre vestido. Mas era, para ela, um homem todo nu. Apre, que é difícil parar e estar todo nu. Corre, homem nu.

E o meu coração balança

entre o tal texto espanhol que atesta por A + B a minha triste limitação em detecção de esparrelas quando já pouco falta para chegar aos 30... e as lindas provas do meu livrinho. Se para o primeiro há prazo, há palavra dada, há toda uma fila de cães da dita à espera de morder a criaturinha na primeira falha, para as segundas há assim quase uma devoção maternal que me consola em termos de "trabalha que para ti é". Não sei... o meu coração balança e cai sempre para este lado. Mas depois vem a razão, qual cadela, e toca de me lembrar os olhos maus que se me fariam se simplesmente fechasse a dita pastinha no ecrã e aos telefonemas respondesse com um sereníssimo "se não se importar, vá dar uma volta ao bilhar grande e nos entretantos pode pentear uma turma de macacos".

:)

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sábado, 9 de maio de 2009

Segredo

P.S. Estou a chegar à semana crítica :)

Homens

Os homens, quando bebem além da conta, sentem operar em si uma tal metamorfose que vão de distintos galarós "que a minha companhia é a portable e assim é que estou bem" para longas dissertações "porque, não sei, mas não estou feliz" :) É de rir. Mas uma gaja ri-se e eles vá de segurar na mãozinha porque "a sério, estou a falar a sério". É de ir às lágrimas... de rir!!!

Ai

que ainda tenho o som da música, em berros, na minha cabeça. E ainda se me tremem as perninhas da falta de treino destas (an)danças noite dentro...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Feelings

Um fim de tarde e uma jantarada com o people do inglês só podem animar esta alma em ânsias!!!

Portátil em farelo

Às vezes tenho a sensação que o meu portátil vai morrer, desagregar-se, explodir e desaparecer em pó...
Anda a fazer uns estranhos e ameaçadores barulhos, ao melhor género: "Aaaiiiiiii, que eu estou tãããooo malzinho, credo!!!"

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Verdades e assim-assim

Acho que há muitos tipos de amor. E que não há só um essencial, vital. Acho que a constatação de um sonho que falha não é sempre sinónimo de um amor que fracassa. Há só uma outra maneira de amar. Aprendamos a viver com isso. A fazer disso uma coisa boa. Um amor inteiro. Tão diferente quanto especial. É preciso é ser feliz :)

Mantendo-se o ritmo

... não tarda muito até dar em doida!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Vejam lá se não querem mesmo mais nada...

"O preservativo feminino tem a forma de uma manga e é constituído por dois anéis: um que fica dento da vagina e outro fica na zona exterior e cobre parte dos lábios vaginais e do clítoris. O material é mais espesso do que o do preservativo masculino e assemelha-se ao de um saco plástico."

Via: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1185242

Dolorosa criatura - o livrinho

E as primeiras provas já cá cantam...

Esforça-se uma pessoa... para isto!!!

Pus eu à prova todos os meus melhores dotes vocais para animar o grupo do CAP e a recompensa foi um unânime:
"Como cantora és uma excelente jurista!"
Céus!!!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Notícia de última hora

O Mike entende que eu e o F. não podemos ficar juntos porque nos distraímos irremediavelmente. Eu e o F. ficámos juntos. Toda a turma fez o exercício. Esperaram mais 3 minutos e nós... ainda assim... na converseta. O Mike fez cara de mau e separou-nos. O F. pediu desculpa porque foi o recambiado. (By the way... é preciso mais para me sentir abandonada!) Novos grupos e... o meu acaba primeiro. Logo... o elemento perturbador é o F.. Azar! Mas que nos fartamos de rir... lá isso...

P.S. Isto só tem piada se se lembrarem que o F. é o colega da viagem ao deserto com um só saco cama :)

domingo, 3 de maio de 2009

Shiu :)

Se até os leões dormem, pequena, porque não adormecerão os teus medos?

http://www.youtube.com/watch?v=SLu_UK_MpfA

Mãe

A minha mãe é a minha mãe. Não é a minha melhor amiga, porque é a minha mãe e nisso entendo que não se devem acumular papéis. Porque ser mãe não é acumulável com mais nada. Esgota-se na plenitude do seu papel. Se um dia for mãe, quero ser a mãe e nada mais que isso. Só a mãe. Porque, se eu for uma boa mãe, serei inteirinha na amizade, na partilha, na ternura, no afecto, no amor, no cuidado, na paciência. E assim serei essencial. Como devem ser as mães. A minha mãe é. Tem defeitos. Temos todos. Mas procura ser melhor todos os dias. Melhor mãe que a mãe que teve. E consegue sempre. Porque, nestas coisas, tentar já é vencer. Da mãe herdei tiques e manias, trejeitos e poses, qualidades e coisas irritantes. Com ela partilho muitas horas, muitas angústias, algumas perdas, algumas escolhas. Às vezes, ser filha é saber ser mãe da mãe na hora certa. Porque as mães também precisam. Esforço-me por não falhar. Pelo menos, muito. Porque falhar a uma mãe é uma mágoa sem cura, uma cicatriz para sempre. Não é nela, que é mãe. É em nós!

Sabem

quando custa sorrir? Sabem? Eu também! Por isso, agradeço que não me obriguem!
quando custa falar? Sabem? Eu também! Por isso, agradeço que não me obriguem!
quando custa levantar? Sabem? Eu também! Por isso, agradeço que não me obriguem!
quando custa viver? Sabem? Eu também! Por isso, agradeço que me obriguem a não deixar de treinar...

sábado, 2 de maio de 2009

Português e outras matérias

Hoje encontrei a minha professora de português do 9.º ano. Estava eu já com as compras na caixa do supermercado quando ouço o meu nome dito baixinho e sinto uma mão amiga a percorrer-me o rabo-de-cavalo. Ainda sabe o meu nome inteirinho. E teve paciência para se lembrar que dizia que queria seguir Direito. Uma pena não ter ido para Letras, minha querida. Sempre achei que à última hora o coração a chamasse para aí... Mas um ar embevecido pela "carreira", porque sim, porque se lembra que merecia e até ver nada lhe diz que tenha deixado de merecer.
Está cansada. Tem o cabelo já muito branco. É ainda nova, mas pôs um olhar sem brilho quando lhe perguntei por ela. Que se vai indo. E enfim... fala-me antes de ti, que estás ainda a começar a vida.
Diz que há pessoas assim, capazes do sacrifício de nos poupar a uma má notícia só para não correrem o risco de nos ver escurecer.
Tive uma professora que concorreu comigo a um concurso de carnaval... e ganhámos! Eu tinha 6 anos! E um professor da primária que chorou na minha festa de formatura.
Tive um professor de história que me conhecia pelo andar.
E um de francês que me chamava "ma petite".
Tive uma professora de ciências que pede à minha mãe que dê beijinhos à menina R.
E um professor de latim que me mandou um telegrama quando fiz a última cadeira.
Tive uma professora de filosofia com quem tomei muitas bicas no Nicola.
E uma de matemática que vi chorar algumas vezes.
Tive um professor famoso.
Tive alguns professores loucos... e outros génios.
Tive até um professor por quem me apaixonei.
Tive outros, muitos, inesquecíveis quase todos.
Mas é quando, como hoje, encontro e sinto assim um deles, que tenho um momento de paz comigo. Porque eu acho que na vida também somos grandes pelo tamanho da saudade que deixamos em quem fica para trás.

NÃO!

Eu não sei dizer não. Mas vou aprender. Dê lá por onde der. Porque eu não tinha obrigação nenhuma de estar para aqui enfiada a traduzir o texto de um caramelo espanhol para fazer o jeito a um gajo que até só é pseudo-maioral... mas estou. Porque não sei dizer não. Mas vou aprender. Porque há um sem número de coisas em que não quero morrer estúpida. E esta é uma delas.
P.S. Estou com o espanhol pelos cabelos!

Wishlist


Hope!


"Aquilo que sentires encontrará por si mesmo o seu caminho."

Jack Kerouac

Antiga cantiga

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

Musgo da piscina,
de uma água tão fina,
sobre a qual se inclina
a lua exilada.

Antiga
cantiga
da amiga
chamada.

Chegara tão perto!
Mas tinha, decerto,
seu rosto encoberto...
Cantava — mais nada.

Antiga
cantiga
da amiga
chegada.

Pérola caída
na praia da vida:
primeiro, perdida
e depois — quebrada.

Antiga
cantiga
da amiga
calada.

Partiu como vinha,
leve, alta, sozinha,
— giro de andorinha
na mão da alvorada.

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'
Daqui: http://icanread.tumblr.com

I'm trying to say that... i'll really be fine!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Diz-me como comunicas

e dir-te-ei quem és!
Como os mais atentos já estão cansadinhos de saber, agora, e porque achei que já tinha pouco com que me entreter, ando a fazer a Formação Inicial de Formadores. Bem é de ver que a rapaziada se inscreve na dita já mirando o futuro CAP. Mas o tempo, também aqui, é sabedor de muitos "ses" e volta-nos a volta muitas vezes.
Sem poder estabelecer comparação com o meu British, que já deixei expresso ter gentinha do melhor que corre por aí, o meu grupo do CAP tem-se revelado um apaziguador de horas menos felizes e um auxiliar precioso a umas tardes bem passadas. Por isso, acho que sou menina para tirar boa nota naquela parte das relações interpessoais!
Ora, ontem a sessão foi sobre comunicação. Escolhas, frustrações, interesses, comportamentos... Descobri, ou melhor sistematizei na minha cabeça, que há quatro estilos de comunicação, pelo menos: agressivo, manipulador, passivo e assertivo.
Pois muito bem. Todos nós, alguma vez na vida, adequámos o discurso a um daqueles estilos.
Lembro-me de ser manipuladora com o meu kiko quando ele se portava mal e era eu quem tinha a responsabilidade de o manter nos eixos...
Não me esqueço das vezes em que gritei tão alto que ainda hoje me dói a voz desses gritos (e o peito e a alma... mas... saiu...)...
Mas, sobretudo, revi-me ontem em cada frase de um discurso passivo e sem vontade, todo enfeitado de medos e tremeliques que, por muito pouco que dure, envergonha qualquer ser humano. Nisto sou sexista sem remorso. Acho mesmo que as mulheres têm uma especial vocação para a passividade, mesmo as mais fortes e determinadas de todas. Há, lá na massa da substância que nos dá forma ao coração, um conectador de discurso passivo que dificilmente encontramos para deitar à rua. São frases que rebentam em pálpebras inchadas e mudas decisões prenhes de paciência e ânsia e espera e esperança e vontade. A capacidade estranha que temos de ler o que não tem código, de decifrar o que está claro, de esperar o que não promete, é coisa para nos levar o tempo... e o sumo.
Por isso, ontem, quando me revi passiva e contei as perdas dessa R., doeu-me tanto permanecer como dói enfrentar os "eus" mais tortos do nosso "eu". Fiquei meia perdida e acho que se notou. Porque, ao melhor estilo da consulta de psicanálise, a A. ainda se atreveu a perguntar se eu queria exemplificar. Disse-lhe, já quase sem fala, que não, que não valia pena. Porque não, não valia. Não se aprende nada com estas horas passivas da gente.
Descobri, depois, que às vezes sei ser assertiva. O assertivo é o estilo de comunicação ideal, mas eu só o tenho às vezes e só em determinados contextos. Descobri isso ontem. Na vida, houve muitas vezes em que deveria ter sido assertiva, mas não fui, mais empenhada em manter-me na dúvida que preparada para levar com a certeza!
Mas ser assertivo não é ficar sem chão, pessoas! Ser assertivo é ganhar espaço para poder ganhar corpo, para poder ganhar músculo, para poder ganhar velocidade, para poder correr atrás das asas. Ser assertivo é deixar morrer a espera, fechar os olhos com muita força, desejar do fundo do coração que corra bem, mas estar preparado para se correr... doutra maneira. Ser assertivo é preparar o peito. Ser assertivo é dizer "basta" com a firmeza de uma decisão que não volta atrás e a doçura de quem sonhou ficar. Ser assertivo é deixar cair o pano. Mas não é morrer!
Não digo que não dói. Mas prometo-me que passa!