segunda-feira, 11 de maio de 2009

Era um homem todo nu. Corria sem pressa, mas sem parar. Toda a cidade parava para não o ver. Só quando passava é que se voltavam e lhes parecia terem topado um tipo estranho. Mas não, se calhar era impressão. Era um homem todo nu. Não olhava bem nos olhos de muita gente. Só de uns quantos tristes eleitos para dar em doidos com os olhos a falarem em código. Era um homem todo nu. Há muito tempo, não seria, mas agora, era. Todo nu, a correr. Corre muito, sem pressa, mas sem parar. Não escolhe corridas. Corre por correr. Às vezes, lá pára num compromisso de homem nu. Todo nu. Houve dias de não correr, mas a pensar que sim. E na cidade, nesses dias, nem impressões se tinham. Outros, sim, correu. E na cidade brotaram teorias sobre o homem nu. Porque é pobre, porque é quente, porque é exibicionista, porque é desligado, porque sim, porque não. Era um homem todo nu. Parou poucas vezes a olhar. Viu ainda menos. Quando viu, parou. Mas era estranho ficar assim todo nu. Porque, todo nu, nunca tinha parado. Era um homem todo nu. Por estranho, sempre vestido. Mas era, para ela, um homem todo nu. Apre, que é difícil parar e estar todo nu. Corre, homem nu.

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