terça-feira, 3 de novembro de 2009

Vestir a camisola

Dormir um sono intermitente, de nunca mais de meia hora seguida, com dores de luto de dente.
Levantar às 5.30 da manhã.
Enfiar a primeira coisa que apareceu, olhar ao espelho e perceber que nem com creme o ar se compunha. Optar por uns brincos tcharam e pensar que podia ser que convencesse alguém que estava óptima.
Chegar a Coimbra às 7.00.
Partir para Évora.
Parar às 9.00 para beber um iogurte, tomar o antibiótico e repetir o anti-inflamatório.
Chegar às 9.30.
Reunir. Parte de apresentações: "Eu sou a R., sou investigadora de tal e tal, normalmente sou faladora compulsiva, mas hoje estou fisicamente limitada, pelo que podem desde já sentir-se abençoados... Vou falar pouco!" Risos e a prova provada que eu também não ajudo a que me levem logo a sério.
Tal e tal e vai de falar como se não houvesse amanhã:
- primeiro, eu tenho uma mania desgraçada que mais ninguém vai fazer aquela pergunta que eu tenho na cabeça;
- segundo, eu tenho um mania ainda mais desgraçada de esmiúçar os casos até ao ponto de já os saber de trás para a frente, por nomes e tudo;
- terceiro, eu detesto aqueles silêncios institucionais, tipo "ora vamos lá ver quem é que dá agora o pontapé de saída" e, normalmente, ponho-me a falar sempre que se calam por mais de cinco segundos;
- finalmente, amando o silêncio, eu também adoro uma boa conversa!
Às 14.00, a coisa finda-se, que foi de empreitada para ainda virmos de dia.
Despeço-me com um beijinho e quase espanco a senhora que decidiu comprimir um bocadinho mais a minha cara, mas não ligo.
Vou contente, ainda com efeito das milagrosas saquetas de spidifen, e vejo o meu reflexo numa montra.
E... cai o mito!
Pessoas da minha vida, eu comecei aquela reunião com a linda cara que Deus me deu (já estava um bocadinho inchada, mas ainda se via que era eu...) e acabei-a com ar de Fiona! Vocês não estão bem a ver... É que nem podem estar...
Agora eu pergunto, onde é que está a solidariedade feminina, hã?! Com mais quatro, sim, quatro, mulheres na sala, não houve uma alminha que me dissesse que se calhar era melhor parar de falar quando começou a ver-me encher como um balão?! Gajas, pá!
Almocei um quarto de omelete (não se mastiga) e meia sericaia (estava boa, dizem... eu não sei bem... era engolir e mais nada!).
Voltámos, numa longa viagem pelas lezírias, ao som do inconfundível Rodrigo Leão. Não contente com a minha situação, ainda me dei ao luxo de começar uma amena cavaqueira com o meu G. Mas foi quando ele disse "acho que é melhor tentares dormir" que se me acendeu a luzinha.
Vi-me ao espelho e a coisa não correu bem... Ele, que é amoroso e meu amigo do coração, diz que isto passa e que amanhã já nem se nota, que não está assim tãããooo inchado e que quem perde o siso, perde o juízo... Eu, ora tenho ganas de o espancar, ora lhe pergunto, com ar de cadela abandonada, se está muito mau, só para o ouvir mentir que "nãããooo, linda!".
Chegámos.
...
Estou novamente sob efeito das maravilhosas saquetas e só por isso é que posso relatar-vos tudo. E concluir que, tendo ido de camisa, hoje provei mais uma vez que visto sempre a camisola. E, à custa disso, fica escrito, eu não vou admitir que voltem a citar gente que não faz a ponta de um corno como gente válida e se achem no direito de considerar que eu faço tudo porque "olha que bom, ser moura de vez em quando". E pronto. E isto não é inveja, é um apurado sentido de justiça.

1 comentário:

  1. Ainda que fosses uma medusa de Fionas eu adorar-te-ia de igual maneira... Tu és sempre bonita rapariga, e não deixes que te convençam do contrário... Põe-te boa, que calada és um desperdício...

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