quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cinema, a saga peregrina

O filme é muito bom. Ponto. Chorei na parte em que a mulher lhe pegou no braço em sinal de "estou aqui, sempre", naquela em que ele diz que não é Rei e no discurso final. Pelo meio, bem, pelo meio não chorei porque, basicamente, ri tanto que ainda me dói a barriga. Tu, pessoa mal amada que foste hoje ao cinema e ficaste ao lado do G., fica sabendo que és... uma grandessíssima chata. Eu sei que tiraste a noite para te amarfanhares ao mais que tudo. Mas ninguém tem culpa que ele volta meia volta se sentisse desconfortável e se chegasse à frente na cadeira, pareceu-me, não me atires já com nomes, mas pareceu-me, que, podendo, saltava para a fila da frente. Discutam isso em casa. Cede também. Lambes a cara do moço em casa e ficas-te pelas mãozinhas dadas, pode ser?! Não?! Azar. Só estava a tentar ajudar. Já me calei. Ou não. Porque essa coisa deve ter-te afectado. Ainda aquilo ia na parte das letras a anunciar os coming soon já tu estavas a mandar vir com shiiiuuus que se ouviam em todo o Oriente. Demos de barato. E porquê? Perguntas tu e respondo eu que não te quero ver em ânsias e até estou razoavelmente disposta à boa acção. Digamos que cada uma das alminhas que tu ali vias não punha o real traseiro numa sala de cinema há bem mais de meio ano. Coisas. Vidas. E tu com isso? Nada. Mas pronto, ficas com o contexto, que uma pessoa, já dizia o outro, também é as suas circunstâncias. Continuando. Ir ao cinema, para nós, equivale assim a meia dose de férias. Pega-se na cabeça, no tronco e nos membros e abala-se para o social. Faz bem. Nós sabemos. Mas não pode ser sempre. Pelo menos para mim, que me habituava muito rápido à boa vida e gosto pouco de fazer promessas que sei não poder cumprir. Mas retomemos. Desculpa os desvios. Ir ao cinema é a modos que festa. A malta fica alegre, reinadia. Cinema que é cinema, para quem anda nesta secura, mete pipoca e coca cola com palhinha. São vícios. E antes isto que roubar. Se o filme fosse de guerra, estou certinha, tinhas ouvido e calado, à custa das pistolas que haviam de fazer pum cada vez que trincássemos uma pipoca. Mas não. O rei fazia pausas longas. Viste que era gago, não viste?! Não estava a reinar contigo. O gajo era mesmo assim. Ora, acarretou esta coisa de o homem às vezes falar calado que tu nos ouvisses pescar as mãos cheias de pipocas. Amiga, éramos 3 e somos poupados. Pedimos um balde grande para dividir. Aquela coisa que os pais ensinam em pequeninos, de partilhares e mimimi. Isso. Tu, pelos vistos, irritas-te com pouco. Mas isso é o menos, que temos todos os três horas extraordinárias nas formações de como lidar com gente mal humorada. E parvinha também. Mas hoje não estávamos bem para te aturar. Desculpa lá qualquer coisinha. Por isso é que, pelo facto de não teres dito "o barulho das pipocas está a incomodar-me", assim educadamente, não pudemos evitar rir na tua cara. Não queríamos. Somos todos pessoal que come à mesa com talheres e dá lugar às velhinhas no autocarro, mas... oh pá... tu estavas mesmo a pedi-las. Parámos a súcia. Teve de ser. A menina quer, a menina tem. Connosco é assim. Apesar disso, confesso, a ideia de te atazanar foi ganhando alguns contornos de malvadez no meu espírito, mas quis a minha veia sensata que me concentrasse no filme e, chegados ao intervalo, já nem me lembrasse que tu existias. Foi só por isso, atenta bem, que me saiu, com a sinceridade própria de pequena R., aquele "Porra, e agora já podemos voltar às pipocas?! É que estive aqui meia hora a chupar pipoca por pipoca para não fazer barulho." Sei que a expressão não foi feliz, mas hás-de reconhecer que poucas teriam sido mais expressivas. Em verdade te digo. Foi isso mesmo que eu fiz. E a minha amiga também. Mandaste-nos calar quando tínhamos acabado de abastecer as mãos cheias e estávamos a por a primeira pipoca na boca. Daí ao fim nem as pipocas nos souberam ao mesmo. Mas era preciso amolecer as ditas para não estalarem. Tudo pelo teu bem-estar. Sei que repeti ad nauseam o feito e que o G. se desmanchou a rir, mas devias ter previsto que a falta de treino nas lides sociais pode ter estes efeitos perversos. Como não paravam de rir, as meninas decidiram ausentar-se para o WC. Assim, tanto eu como a companheira fizemos alarido sala abaixo. Mas porque tu deitavas fumo pelo cantinho da boca e isso estava a dar mais piada à cena. Quando saí da casa de banho, incrivelmente, descobri que tinha uma pipoca por dentro das meias calças, ali pertinho do joelho. Sei que a minha amiga divagou bem cinco minutos, à porta, sobre como tinha a dita pipoca ido parar a tal sítio. A explicação é mais simples do que julgas. Devia ter uma pipoca no lenço, que me caiu na casa de banho. Tenho cenas caricatas. Esta é só mais uma. Não foi por ser para ti. Não era a fazer-me de provinciana. Acontece-me mesmo. Não te dês toda essa importância. Quando chegámos ao lugar estávamos dispostas a parar de rir e dar, finalmente, um ar mais sério da nossa já tamanha graça. Mas sabes que ver o G. tentar atirar-nos pipocas e vê-las cair no decote da senhora que estava ao meu lado foi um bocado lindo. E deu para rir. Isto de uma pessoa fazer paródia com a falta de jeito é marca de água de quem não tem jeito para muita coisa mas já percebeu que a vida se leva melhor a rir. Experimenta. Não dói nada. Depois passa cá a contar. Ou não. Enfim. Isto para dizer que tivemos pena que tenhas pegado no teu moço e se tenham mudado para a ala oposta da sala na segunda parte. Podemos parecer adolescentes com as hormonas aos saltos, mas não, acredita. Era só felicidade por estar novamente no cinema. Gostaste do filme?! Ainda bem. Via-se pior ali no canto para onde foste, não via?! Deixa lá. Mas podias ter ficado. Tínhamos acabado com as pipocas entretanto. E, mesmo quando chorei, nem muito ranhosa me revelei nem nada. Fica benzinho, sim?! E que a vida te corra pelo melhor. A sério. Que a seriedade é que te assenta bem.

1 comentário:

  1. Tenho a sensação que não conhecem a história do senhor que foi assassinado por estes dias na Letónia na sequência de uma discussão por causa do barulho a mastigar as pipocas durante o Black Swan..... Já não há segurança e tolerância em lado nenhum... Se vendem o raio das pipocas no cinema então parece-me que e para as comer durante o filme... Se ficam incomodados não vão ao cinema ou então queixem-se aos senhores que exploram a sala de cinema! Isto esta tudo doido....

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