sexta-feira, 17 de junho de 2011

Das pessoas

Ontem, eu e o G. fizemos a festa, lançámos os foguetes e apanhámos as canas. É que ontem chegou a conclusão de uma história que conhecemos demasiado bem. Há dois anos que lhe seguimos os passos todos, mesmo os que pareciam insignificantes. E a nossa convicção, a cada folha de relatório mais forte, de que o caminho não era por ali, deu lugar a muitas reuniões, a muitos pareceres, a muitos emails trocados, a muitos telefonemas, a muitas viagens. Da última vez, abrimos o jogo. Era o tudo ou nada. O projecto estava prestes a acabar e tínhamos ambos o peito cheio de inquietação por deixar aquela pessoa pequenina assim, entregue ao depois vê-se, porque tudo se lembrou de ter feelings. Um por um desmontámos cada argumento fantasioso da história do "e se" e demos o corpinho ao manifesto construindo uma nova versão da história só com factos. Factos, minha gente. Acabei irritada e com o G., debaixo da mesa, a apertar-me o braço, numa de "tem lá calma". Lembro-me só da frase "O risco faz parte da vida. Arrisquem. Façam alguma coisa. Não deixem a criança nesse limbo mais sete anos. Por favor.". Ontem, já sem contarmos com ela, chegou a conclusão da história. Há, numa pequena aldeia piscatória deste Portugal, um pai que tem o filho consigo desde há umas semanas e que, como durante anos prometera, está a cuidar dele como se espera que um bom pai o faça. Não há só maus pais, há mães que deviam ter de pedir licença para dar à luz... na certeza porém de que não seriam autorizadas. Ontem, dizia-me o G., com os olhos brilhantes e quase cheios de lágrimas, o nosso trabalho fez todo o sentido. E se o projecto em que nos envolvemos acabar na semana que vem, já não faz mal. Ninguém no futuro governo é obrigado a saber o que fizemos. Nem mesmo muitos dos nossos colegas ou superiores se aperceberam do que durante estes anos andámos a fazer. Mas nós, e algumas pessoas, como as que assinavam a carta de ontem, sabemos que as maiores conquistas às vezes não se veem. São aquelas que mudam a vida das pessoas para melhor sem frenesim. E foi isso que nós fizemos. Juro que se vos disser que ontem ficámos mais orgulhosos de nós do que talvez em qualquer um dos dias de um feito académico, não estarei a exagerar. E é por isso que eu sei, mesmo que mais ninguém saiba, que há coisas que faço bem e que esta, definitivamente, foi uma delas.

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