terça-feira, 6 de setembro de 2011

Três dias, uma cidade e três museus

Meus amores, Madrid não foi bom, Madrid foi muito bom!

A cidade, não sendo maravilhosa, tem um ritmo muito próprio e que lhe dá muito charme. O facto de à meia noite uma rapariga poder andar sozinha na rua sem dramas é sinal disso mesmo, do ritmo que faz de Madrid uma cidade para viver de noite e de dia. Em três dias, fui aos três museus e andei tanto que ainda me doem as pernas. Para quem estiver a pensar visitar Madrid, permito-me armar ao pingarelho e deixar algumas sugestões. Fiquei num hotel na Gran Via e foi o melhor que podia ter feito, porque aí é o centro, mesmo centrinho, ali a meio caminho entre a Castellana e Atocha. Mais centro, impossível. Depois, acabei por perceber que também tinha escolhido a melhor altura para visitar a cidade: livrei-me do calor que obriga à siesta forçada, mas só apanhei umas pingolas na quinta feira à noite. Um tempo bom, mesmo bom, à volta dos 23 graus, com uma brisa bem ao gosto de pequena R. O guia, bem, como em equipa que ganha não se mexe, apostei mais uma vez nos da American Express e não me arrependi. Os mapas estão actualizados e tem todas as informações úteis sobre a cidade (até as ruas a evitar, como a Corredera del Barco ou a Calle de la Montera).

O roteiro para três dias:

1.º dia

No primeiro dia, depois de muito bem instalada e de ter tirado o vestido do casamento da mala, onde mais parecia sardinha na lata, desci a Gran Via até à Plaza de España, que não me encheu nadinha as medidas, pelo que em pouco tempo estava já nos Jardines de Sabatini e daí para o Palácio Real e para a Catedral de Almudena. Visto o Palácio por fora e a Catedral por fora e por dentro, tomei o meu rumo pela Calle Mayor, onde pude apreciar as fachadas dos prédios e deter-me com mais calma na Plaza de la Villa e no Mercado de San Miguel, assinalado logo aí para voltar a tempo de provar umas tapas. Depois do Mercado de San Miguel e de pousar as vistinhas numa loja de pintura e artesanato local, de onde trouxe o tradicional quadro da cidade visitada, já só parei na Plaza Mayor. Magnífica. Sobretudo, a Panaderia. Fiquei um bom bocado por lá sentada a pensar na vida e a tentar interpretar os desenhos dos signos da fachada, obra de Carlos Franco. Saindo da Plaza Mayor, chega-se rapidamente à Puerta del Sol que, shame on me, é uma praça com muito pouco de especial. Sem grandes ambições, segui pela Calle San Jerónimo até dar de caras com o Passeo del Prado e ficar logo aí rodeada de museus. Pus perninhas ao caminho e, descendo até Atocha, chego ao Reina Sofía. Eram seis da tarde… o que convidava a aproveitar a visita gratuita. Confesso que gostei muito e que há uma série de atracções tão boas ou melhores que a famosa Guernica de Picasso. De qualquer modo, o quadro é incontornável. Não vale a pena preocuparem-se em achá-lo. Onde virem uma multidão parada, é aí. Aproveitem os elevadores panorâmicos, em vidro, do Centro de Arte, para terem uma vista generosa da cidade. Saí do Reina Sofía ao bater das 21h, com a certeza de que não tinha visto tudo, mas tinha ficado com uma impressão já formada do espaço. Subi o Passeo de la Infanta Isabel e virei à esquerda, tomando a Alfonso XII, a par do Retiro. Foram, seguramente, 30 minutos a pé até chegar à Puerta de Alcalá, na Plaza de la Independencia, onde se encontra a primeira porta em arco da Europa, anterior até mesmo ao de Triunfo, em Paris. Mas no passeio vi tanta coisa bonita que o tempo passou a correr. Estava escuro como breu e, para primeiro dia, achei que não valia a pena abusar, pelo que desci para a Plaza de la Cibeles, daí para o Metrópolis e depois toda a Gran Via até ao hotel. Tinha-me esquecido de ir às tapas e não queria entrar num bar por entrar. Por isso, e porque estava cansada, entrei no Vips Verde, peguei numa embalagem de sushi e numa garrafa de água e subi para o quarto, onde fiz o banquete, tomei banhinho e fui para a cama.

2.º dia

Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer. De qualquer modo, eu sou uma pessoa que gosta de dormir, pelo que o segundo dia só começa aí por volta das 10h, hora a que saio do hotel, com um pequeno almoço rápido, subindo a Gran Via, e tomo caminho pela Fuencarral. Não me rendi. Tudo muito visto, vá. Percorrida a rua famosa e dadas umas voltas em Malasaña, inverto a marcha para o bairro de Chueca, até chegar à esquina do Café Gijón, no Passeo de Recoletos. Subindo a rua, encontro a Biblioteca Nacional e o Jardim dos Descobrimentos à direita, mas não me detenho, porque era um pouco mais à frente, já na Castellana, que estava o meu objectivo: Hard Rock. Quem já viajou comigo sabe que não perco um. Muitas vezes, nem compro nada para mim, mas faço questão de engrossar, em cada viagem, a já extensa colecção de t-shirts do mano. O mano é guitarrista. O mano adora o Hard Rock. Saindo do Hard Rock, tomo a Calle de Serrano, certa de que, sendo rica, facilmente perderia a cabeça a cada porta. Houvesse cabeças para perder, que as portas já lá estão. Destaque para a Loewe, a minha marca sonho de consumo (babo pelas montras) e para a Joalheira Rabat, que ainda tenho a cor das pedras preciosas a entrarem-me pelos olhos dentro. Como sou uma trabalhadora classe média, com um parco salário, tive de me desgraçar pouco, pelo que babei por muita coisa, mas fiquei-me pelo meu objecto de eleição desta viagem: uma pulseira da nova colecção da Bimba § Lola, que tem uma tartaruga. Porquê?! Porque eu bem sabia que não devia duvidar que devagar é que se vai ao longe. Com umas bolachinhas mais, permiti-me adiar o almoço, seguindo para o Retiro. Adorei muito passear por lá. Parei a ver os casais a andar de barco, estive tentada a parar na menina que lê a sina, mas o dinheiro custa-me a ganhar, visitei a exposição do Palacio de Velásquez, emocionei-me com o Palacio de Cristal, li num dos banquinhos e dei de caras com um homem sem cabeça. Logo agora, que acho que um dos males da humanidade é haver poucos homens a perderem genuinamente a cabeça ou, pelo menos, a perderem-na pelo que interessa. Com a barriga a dar horas, segue-se, pela rua lateral ao Casón del Buen Retiro, para a sugestão da Pipoca e que fica aqui como sugestão minha também: La Finca de Susana, numa travessa da Calle de Sevilla. A-d-o-r-e-i!!! O espaço, o atendimento, a comida, o preço, tudo. Deixados para trás os deleites do corpo, seguimos para uma tardada de deleites da alma. Primeiro, Thyssen. Visto com uma certa calma, eleito preferido dos três museus. Quadro de eleição? Não, não é o Quarto de Hotel, de Hopper, mas a Mancha em cinco cores, de Kandinsky, que reconheci do livro de história do 12.º ano. Gostei tanto de ficar frente a frente para ele. Saindo do Thyssen, segui para o Prado. Ora bem… o Prado. O Prado, minha gente, é um mundo. Portanto, tal como acontece a quem quer conhecer o mundo mas sabe que não tem tempo, também no Prado é necessário fazer opções. Eu tinha duas horas. E sou apologista do depressa e bem não há quem. Portanto, peguei no que tinha à mão sobre o Museu e puxei pela cabecinha para lembrar o que queria muito ver e fiz a minha escolha. Uma dúzia de quadros. Haveria muito mais para ver de entre os mil expostos no Museu, mas eu já ficava contente se conseguisse ficar cara a quadro com aquela dúzia de obras tão diferentes e importantes para mim e que iam d’ As Meninas, de Velásquez, a Rubens ou à Anunciação, de Fra Angélico. Demorei quase as duas horas. Não porque tenha ficado, em todos, 10 minutos a olhar para eles, mas porque se tem de andar quilómetros para chegar de umas salas às outras. Quando saí, aproveitei para lanchar (jantar) um muffin e um chá no café do Prado, dentro do Museu. Com um chapéu na cabeça e tomando uma chuvinha morna na cara, tomei o meu rumo pelo Passeo del Prado.

3.º dia.

No terceiro dia, com uma dor de pernas do Ó, cumpri as recomendações de mamãe, que é fã de dar uma voltinha de autocarro turístico em tudo quanto é cidade. Depois de feitas as duas rotas, descobri que, tirando o Santiago Bernabeu, eu tinha encontrado, a pé, tudo o que era mesmo importante encontrar. Era o último dia, pelo que se impunha comprar torrão. Na Calle de San Jerónimo, encontra-se a reputadíssima casa Mira. Foi lá que comprei o meu torrão. Com Madrid em dia (o que queria ver, mas há muito, muito mais…), sigo para o Mercado de San Miguel, onde me abasteço de tapas, que venho saborear sentada na Plaza Mayor. Calmamente. Depois, volto a passar no Mercado e peço um gelado biológico de morango, que é assim uma coisa dos deuses (vão lá), e venho saboreando o dito cujo até ao Palácio. Sem filas, convenço-me que tenho diante de mim a oportunidade de mais uma visita. Entro e vou vendo e lendo as coisas, até ter a sorte de encontrar uma visita guiada em italiano. Colo-me a ela, literalmente, e fico a saber coisas giríssimas, como que todos os relógios de todos os palácios funcionam e no Palácio Real há uma oficina de relógios. De tudo, destaque para a Farmácia Real (para quem for de Farmácia, vale mesmo a pena) e para o quarto de vestir do Rei, com uma ilusão de espelhos um em frente ao outro que forma uma galeria interminável. Uma coisa tão, tão gira. Dada uma voltinha pelo exterior, saio do Palácio e caminho calmamente pelas ruas de Madrid, sentando-me numa esplanada da Plaza de Isabel II, lendo um pouco e descobrindo o Monasterio de las Descalzas Reales. Quando chego à Gran via, lembro-me que no dia a seguir tenho um casamento. Assim, entro num cabeleireiro e ponho ordem na parte de fora da cabeça. De passeio até ao hotel, páro na Sephora e compro dois vernizes da nova colecção: um verde e um rosa. Vou ao hotel, tomo banho, pinto as unhas de fresco, leio mais um pouco e saio para jantar. Na dúvida, La Finca de Susana novamente. Fiquei muito, muito fã. De tudo, enorme destaque para a sobremesa deste último dia. Nunca visto. Carpaccio de ananás com gelado de tangerina. Leve e maravilhoso. Percorro a Calle de los Preciados e atento nas montras. Dou um giro pelo El Corte Ingles e caminho sem destino até ser noite bem alta. No sábado, ao raiar da aurora, parto para Montico, onde verei casar o meu amigo. Antes de fechar os olhos, ainda assisto a uma entrevista ao Almodóvar, que esta a dar na TV por ocasião do lançamento de mais um filme.

O pior de Madrid: Há muitos sem abrigo. É uma coisa aflitiva. Mesmo aflitiva.

Do melhor, em Madrid: Para além de tudo aquilo de que já falei, há animação de rua de muita qualidade. No Retiro, fiquei a assistir um tempo imenso a um saxofonista maravilhoso. Na sexta à noite, nos Preciados, uma senhora tocava violino e, mais adiante, quase na Porta do Sol, outra cantava ópera.

Informações úteis:

O Reina Sofía e o Prado têm entrada gratuita a partir das seis da tarde.

No Thyssen e no Palácio Real há desconto de 50% para estudantes (cartão de doutoramento serve).

O Reina Sofía fecha às 21h, o Prado às 20h e o Thyssen às 19h.

Madrid recomenda-se, oh se recomenda! Venho com cabeça e coração em sintonia. Há muito que tal coisa, por estas bandas, não se via. Viajar sozinha é tão bom que a única coisa que me faz espécie é ter de ir pedindo às pessoas que não conheço para, de vez em quando, tirarem uma foto em que eu também apareça!

6 comentários:

  1. Agora manda vir essas fotos que uma imagem vale mais do que mil palavras :)

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  2. Pipoca, acho que sou melhor com as palavras do que com as imagens... mas aí as tens :)

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  3. Confesso: fiquei com dores nos pés só de te acompanhar pela leitura, mas foi como se tivesse ido a Madrid e regressado em poucos minutos. Tão bom! Fiz a ronda dos 3 museus quando ainda namorava, já lá vão uns 9 anos (credo!) e fiquei com saudades e vontade de regressar ainda com mais tempo. Vou ver se anoto as tuas recomendações. :)

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  4. Tenho tantas saudades de Madrid....

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  5. Madrid é realmente uma agradável surpresa... eu adorei e como tu também fiz mais km's em dois dia que num mês por aqui!! Acho que só deves abrir essa tua excepção de viajar sozinha para fazermos as duas aquela viagem (Austria-Rep. Checa) ahahah!!
    Que esta seja a tua cidade de encerramento de capitulos do livro da tua vida!! Bjs***

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  6. Também adoro Madrid. E a última vez que lá fui já faz demasiado tempo... foi em 2005!
    Soube bem ler-te e relembrar-me dos sítios por onde pass(e)ei :) Obrigada

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