sexta-feira, 25 de novembro de 2011

É notícia!


Para que não restem dúvidas, concordo! A devolução da responsabilidade pelos filhos aos pais é tarefa urgente não só nos Açores ou em Portugal mas pelo Mundo fora. A escola, as actividades de CAF, a catequese, os escuteiros, o treinador do clube de futebol amador de iniciados e sei lá mais o quê têm, não nego, um papel importante na vida das crianças que passam pelas suas mãos... mas não são pais delas. Nem têm ou devem comportar-se como tal. A verdade é que a medida não é inédita e, pelo menos em Inglaterra, assistimos a iniciativas semelhantes há já alguns anos. Pôr filhos no mundo leva chancela de responsabilidade desde a primeira hora. E os pais, alguns pais, andam arredados disso, convictos do desembaraço de crias que mexem no computador melhor que eles, arranham os números e os dias da semana em inglês e podiam concorrer a provas de rapidez na escrita inteligente do telemóvel. O fenómeno, quer-me cá parecer, é transversal, das elites aos subsídio dependentes. E por isso o novo regime só peca no âmbito de aplicação prática. Estes são os filhos medicados com ritalina desde a pré, os que têm consultas no psicólogo desde que falam e os que poem a cabeça em água a quem tentar fazer deles alguma coisa com jeito. São, não raras vezes, miúdos de boa índole, com um profundíssimo sentido de justiça, mas que não aprenderam a conversar, ignorados ou depositados horas em frente à televisão (o que, em rigor, dá no mesmo). Estes miúdos, que resolvem tudo à chapada, são os que abrem as torneiras dos olhos quando confrontados injustamente. Estes miúdos têm monstros de impaciência no peito que insistem em calar-lhes com gormitis e coisas do estilo. Andam ao Deus dará, mas sob o manto traiçoeiro da indignada afirmação de que as coisas são assim porque a vida está tão mal que os pais têm de trabalhar 25 horas por dia para dar-lhes tudo. E depois aquilo espremido é nada. Ou então são os que têm pai, mãe, uma dúzia de irmãos, um tio inválido e uma avó deficiente, mais o companheiro da mana mais velha e o filho da segunda mana que não sabe quem a pôs de barriga a viver lá em casa mas ou não levam lanche para o meio da manhã para a escola ou levam sumo de lata e um bolicao. São os pais destes miúdos que dizem "a tua professora é uma parvalhona" quando precisam de assinar recados na caderneta, foram estas pessoas que esvaziaram o sentido de autoridade de tudo... e, pior, de todos. Não se respeita o pica do autocarro, não se pedem desculpas à professora, não se ajudam os idosos, não se respeitam os animais, não se teme o polícia, nem se respeita o polícia. Não há medos. E isso é bom. Não há respeito. E isso é péssimo. Este novo regime não resolve tudo. Provavelmente, resolverá muito pouco. Mas é um sinal. E o Mundo anda, na minha opinião, órfão deles.

2 comentários:

  1. Já foi classificado "psiquiátrica e sociológicamente" e chama-se, penso, o Síndrome do Imperador- mas há uma enchurrada de ideias que ajudaram ao desaire: o culto da infância e da juventude com coeva desvalorização do "adulto velho", com injecção de "insegurança" nestes.
    A relativização sociológica do ser humano dá sempre asneira...Não sei como não aprendem .

    Bj.

    C(en)

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  2. Shame on me : "enxurrada " e não o que consta.

    C.

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