quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Prendada aos 30 anos

E pronto. Aos trinta anos e mais de meio caminho percorrido para entrar num trinta e um, eu, pequena R. Maria, aprendi a fazer malha. É. Ser filha de professora permitiu-me beneficiar de alguma paciência adicional quando tive de subir o ponto para a carreira de cima e unir os abertos com os fechados nos cantos. Comecei ontem com as lições e hoje já ali tenho material que podia jurar-se servir para uma pega da cozinha. Mas não. Assim Deus permita, aquilo um dia há-de chegar a almofada. E depois dessa, hão-de vir mais três, cada uma de sua cor, com tremoço de um tom abaixo nos remates. Diz que são para fazer bonito com a manta toda pink que a mamã se pôs a fazer para a minha sala, reportando-se a uma ideia que acalenta com inegável estima: a de que a minha sala, lugar dos meus tempos mais enxutos de inspiração tésica, merece uma decoração de Inverno e outra de Verão. Ambas as duas cheias de cor e mimos de mãe, em mantinhas, almofadas e coisas assim. A dada altura, posso apostar, terá pensado que eu careceria não tardava de um plano de recuperação, toscas as mãos a irem buscar as laçadas, mas há bocado chegou-se ainda mais junto e disse que afinal, bem vistas as coisas, até aos trinta anos se pode aprender mais qualquer coisinha do ser menina e que a meninice não acolheu. Cozinho cada vez mais comestivelmente, sou irrepreensível em limpezas e arrumações, não sou propriamente daltónica na decoração do lar, planto flores que é uma categoria e bordo ponto cruz com um lado direito perfeitinho. Agora, já sei fazer pelo menos dois pontos na malha, que diz que não difere sequer muito do crochet. Em garota tocava piano e, embora ande enferrujado, o meu francês ainda dá para o gasto. Definitivamente, a minha mãe não cabe em si de contente. Tem uma filha prendada. O meu pai, esse, ficou-se pela solene advertência de que esta coisa de nos tornarmos siamesas nas férias nos custa alguma inquietação na hora de voltarmos à vida dos outros dias. Mas depois disse que não fazia mal nenhum, porque as horas que passamos ao telefone podem bem justificar que não tenhamos medos desses. Ah. E acrescentou que, da família toda, sou a alminha com os pés mais bonitos e perfeitinhos. Nunca me tinha ocorrido apreciar pés, mas se o pai diz, é porque é verdade. E pronto. Sou uma prendada com uns pés de categoria. Diz que.

6 comentários:

  1. Os meus pés são muito feios... mas, ao que parece, em todo o resto devo ser, mesmo, muito parecida contigo. Ontem ouvi um sonoro: "Tu és igual à tua R.! Estão mesmo bem uma para a outra."
    (Podia ter tudo para ser uma linda e perfeita comparação... mas acho que nos estavam a criticar...)
    A propósito... já não aguento com saudades tuas!

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    1. Quem eu estou a pensar?! Porque nos criticava?! (Já te digo coisas sobre as saudades infinitas que por aqui andam também :)) Beijinhos***

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  2. dizia a minha avó e diz a minha mãe: o saber não ocupa lugar. apercebo-me agora que eu também o digo

    :)

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    1. Devias era assistir à minha figura na praia, a fazer malha, sentada numa cadeira, à sombra de um guarda sol. Passava facilmente por tua mãe e, à hora do lusco-fusco, com sorte, por tua avó :)

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  3. Fazer crochet está na moda menina, portanto acabaste de aderir à moda. O que se vê mais é malta jovem a fazer 'malha', como dizes. Estás in. Continua! ;)

    By the way, fotos não há? Aqui as amigas crocheteiras querem ver. ;) Beijinhos

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