segunda-feira, 18 de março de 2013

Polémica

Hoje li, a propósito da morte de Olivier Metzner, a seguinte frase "Advogado que se preze não defende narcotraficantes." e, desde que a li, a frase não me sai da cabeça. Não pelo que literalmente anuncia, mas muito pelo que lhe está subjacente. Esta incapacidade para acolher sem reservas o princípio fundamental segundo o qual qualquer pessoa merece defesa, é uma coisa que distingue o jurista do não jurista. Há outras, por certo, a separem estes dois lados, mas esta é, muito provavelmente, a mais profunda. Distanciar-se do amor ao caso para abraçar o amor à justiça é uma coisa que custa. Nunca me esqueço da escala em que me chamaram ao TIC e, à minha frente, tinha o alegado homicida da mulher. Depois de anos de tortura física e emocional, um dia, tê-la-ia matado. Ao lado, a filha, que chorava copiosamente e perguntava, repetidamente, se eu podia fazer alguma coisa. E fiz. E dizem que fiz bem. Aconteceu de não ser pronunciado. Ainda hoje me custa ter feito aquilo tão bem... Mas a verdade é que se amanhã fosse colocada na mesma posição, provavelmente, faria tudo ainda melhor... tantos anos passados e alguma coisa a mais entretanto aprendida. Deixei o foro sem grande pena. Não trago, porém, arrependimentos. Conflitos interiores, talvez. Os mesmos que me fizeram escolher outros caminhos, onde me sinto bem melhor. Mas enfim... Compreendo que para um não jurista o que eu digo não faça sentido algum...

3 comentários:

  1. Um traficante leva um tiro, entra num Hospital e um médico o que faz? Não o atende porque é traficante?

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    1. :)
      Quem não entende o meu texto e vê com razoabilidade a frase que cito terá sempre o argumento "É diferente... Quando se trata da vida é diferente..." :)
      Beijinhos*

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