quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Da expectativa

Não há pessoas perfeitas. Não conheço nenhuma, pelo menos. Há pessoas extraordinariamente surpreendentes. Tenho a imensa sorte de conhecer algumas. Há pessoas inteligentes, há pessoas bonitas, há pessoas simpáticas, há pessoas com muito sentido de humor, há pessoas compreensivas, há pessoas sensíveis, há pessoas apaixonadas, há pessoas solidárias, há pessoas cheias de talentos, há pessoas escandalosamente sociáveis, há pessoas atenciosas, há pessoas educadíssimas. Há pessoas que reúnem todas aquelas qualidades. Mesmo essas, não são perfeitas. Ou, pelo menos, não são necessariamente perfeitas. Conheço algumas pessoas com todas aquelas características e que, ainda assim, têm defeitos. Nunca, talvez por isso, acreditei poder um dia encontrar uma pessoa perfeita. Meu dito, meu feito. Não encontrei. Acontece que me venho convencendo desde o primeiro dia que encontrei a pessoa perfeita para mim. E isso, enfim, é meio caminho andado para a coisa dar certo. A outra metade está, naturalmente, dependente do facto de a referida pessoa se vir convencendo, também ela, que encontrou a pessoa perfeita para si, no caso, eu. Acompanham-me?! Óptimo. O meu namorado  formalizou um pedido de namoro quando já há muito namorávamos. Ora, eu cá tinha pensado começar pelo pedido e namorar a seguir. Não calhou. Foi bom também. O meu namorado é a pessoa mais ensimesmada que eu conheço. Em português por claro, o meu namorado prende o burro. Eu cá tenho pouca paciência para gente que prende o burro, sobretudo porque gosto de tudo muito explicadinho, conversadinho, e sofro de arritmia quando não me esclarecem logo e me pedem espaço, nem que isso signifique só um bocadito calado. Mas enfim. Gosto dele, ele gosta de mim, tem prendido menos o burro e conversado mais e é bom também. O meu namorado é ligeiramente obcecado por trabalho. Eu também, mas ele é mais, pronto. É chato nunca chegar para jantar antes das nove e ter adiado o início das nossas férias, mas é um querido que aceita o shame on you da coisa e ainda pede desculpas, que é um sinal grande de maturidade e eu gosto dele e portanto, é bom também. O meu namorado prefere fotografias sem gente e eu prefiro fotografias onde apareçam as pessoas, mas a verdade é que continuo a rever as fotografias das férias, só para me lembrar de como foram boas. O meu namorado consegue estar a falar comigo e a pensar nas alterações ao Código de Processo Civil ou numa forma de safar um cliente da cadeia. Enerva-me, mas depois dou por mim a discutir direito com ele e acabo por achar piada à coisa. É bom também. Deu-me flores uma única vez, mas deixa-me recados a dizer que me ama, dentro de livros ou no computador. É bom também. É um desarrumado crónico, mas quando acabamos de tomar o pequeno almoço diz-me que posso ir pintar-me porque ele lava a louça. É bom também. O meu namorado recusa-se a dar-me beijos se os meus pais estiverem num raio de dez quilómetros, mas nunca anda na rua sem ser de mão dada comigo. É bom também. O meu namorado tem como prato de eleição arroz de cabidela (sim, eu sofro!), mas alinhou em fazermos um jantar gourmet cá em casa para os amigos. É bom também. Reparem que o meu namorado diz que há dias em que o meu cabelo lhe faz lembrar o Rubeus Hagrid do Harry Potter (há coisas que podem condenar uma relação...), mas até hoje não passou um dia sem dizer que me amava e talvez possa contar pelos dedos das mãos aqueles em que não me disse que estava muito bonita. É bom também. O meu namorado dorme mal e isso faz com que eu me preocupe muito, mas contempla-me enquanto durmo e eu acho isso muito foffi. Encontrei-o. E ele encontrou-me. Chateiam-no os meus vícios de mulher solteira, mas enternecem-no as características da menina mulher que é fanática por limpezas e escreve sem erros. Dá-me ideia que em Itália o vi olhar para mim, embevecido, enquanto pedia à menina que lhe servisse ervilhas salteadas. Não se descoseu, mas diz-me muitas vezes que se orgulha de mim. É muito mais ponderado e incomparavelmente mais culto. Desajeitado na maneira de me ir levando para o seu mundo público e carecido de mimos que lhe sustentem a aprovação a que juro ter sido sujeito por todos os meus, faz-me feliz. Faz-me rir. Ensina-me coisas. Dá-me lições, até de humildade. Não deixa de ser importante ter-me eleito para botar faladura e aceitar cada vez mais esclarecer tudo o quanto antes, deixar tudo em pratos limpos. Emociona-se com o que o magoa e com o que o faz feliz, desde que se trate de uma coisa verdadeiramente importante. E escolhe irrepreensivelmente as suas coisas importantes. Teima que gosta mais de mim que eu dele. Não consigo dizer-lhe o contrário. Continuo com dúvidas acerca do quão feliz posso fazer alguém e continuo cheia de medo de não conseguir alcançar este patamar em que ele me põe todos os dias. Não sei se é porque gosta mais de mim. Acho, honestamente, que é porque gosto tanto dele que acabo ainda mais rendida quando o vejo ceder aos meus caprichos e fazer-me as vontadinhas, como ver a lua, cheios de calma, ali na varanda, sem o tempo contado. Mas ele teima que não, que gosta mais de mim. E eu, olhem, deixo-o levar a bicicleta. Não vos disse, mas é teimoso até à sétima casa. Expectativas?! Bem... acho que os planos que a vida tinha para mim são mais melhores que os que a dada altura supus querer muito. É bom também. É óptimo, vá. Amanhã já é sexta, ele vem de fim de semana and... we are in love.

3 comentários:

  1. Em legítima defesa, tenho a declarar o seguinte:

    Ponto primeiro - Este texto é um verdadeiro elogio a moi même (havia mil e um defeitos bem piores que ela podia publicar... ela não o fez!).

    Ponto segundo - Havia, pelo menos, mais uma ou duas virtudes (duas, talvez, seja já exagero) que possuo !!!

    Ponto terceiro - Eu podia impugnar todo o alegado, mas ... corresponde tudo à verdade.

    Ponto quarto - Eu amo-a ! E a um homem que ama verdadeiramente (como eu a amo !!!) perdoa-se tudo !

    B.

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  2. Já li muito texto bonitos neste lugar. Mas este é um dos mais bonitos que me lembro.

    Acho que ambos têm muita sorte.Porque se têm aos dois como se de um apenas se tratasse.

    Muitos Parabéns por esse amor.

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  3. ☺ que bonita declaração de amor

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