sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Boas coisas

O tempo, não estando ainda frio, arrefeceu já. Há chuva lá fora. Embora não aprecie muito ter de sair de casa com chuva, percebo que seja necessária e as primeiras do Outono, acompanhadas de um cheiro intenso a terra molhada, são uma delícia para os sentidos. Trabalhar em casa tem também a vantagem de podermos escolher entre ter uma música baixinho ou ouvir só os sons melancólicos da rua a anoitecer-se cada vez mais cedo, ali por aturas do quase meio da tarde. A somar a isso, permite que se passe a vagar da sensação livre de andar descalça para o conforto morno de enfiar os pés em meias fofinhas. Há coisas más de trabalhar em casa, claro. O facto de não se ter horários, as inúmeras fontes de distracção (se pensar bem, tenho sempre alguma outra coisa para fazer sem ser trabalhar na tese, por exemplo: ou arrumar gavetas, ou redecorar espaços, ou escolher fotografias, ou organizar o frigorífico, ou passar a ferro, ou escovar sapatos e carteiras de pele, ou limpar as pratas, ou aspirar, ou passar só mais um paninho no chão, ou limpar o pó nas prateleiras de livros, ou tirar as folhas secas às plantas, ou, ou, ou), etc. Escolher trabalhar, no que profissionalmente nos ocupa, é uma opção de força, que nos obriga a uma certa disciplina que nem todos os dias corre muito bem. Mas trabalhar em casa tem também muitas vantagens. Esta, de ir recebendo as estações sempre com uma atenção redobrada ao que, cá dentro, muda pelo que muda lá fora, é uma delas. Gosto muito do Inverno. Gosto muito do frio. Gosto das botas, dos cachecóis, das lãs, dos casacos compridos, das múltiplas mangas, das meias calças, das luvas, dos chapéus, do ventinho na cara. Gosto da sensação de mergulhar num mundo quentinho, como bolha rodeada de paisagem inóspita. Gosto do Inverno porque não há nenhuma outra altura do ano em que a casa se me assemelhe mais a ninho. E eu gosto de farra, de laró, de fugir, de andar por aí, mas também gosto muito, tanto, de uma tarde no sofá embrulhada numa mantinha e com as mãos aquecidas pela caneca de um chá cheiroso. Ahhh... o Inverno. Coisa tão boa... a chegar. 

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