segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Sobre a vergonha alheia

Acho que um dos piores sentimentos que podemos ter relativamente a alguém é o sentimento de vergonha alheia. Aquele misto de comiseração e repúdio que nos faz desviar da cena, de mansinho, procurando que não nos confundam com ela. Uma espécie de paternalismo travestido de sensação de ridículo. Este fim de semana, senti isso relativamente a todos aqueles que se puseram aos berros em frente ao Estabelecimento Prisional de Évora. Carneiradas fazem-me espécie, como se abafassem a réstiazinha de originalidade que podemos manter no mundo de centrifugação acelerada que é este, o nosso, em pleno século XXI. Esta, no entanto, fez-me mais que espécie... fez-me sentir vergonha alheia. Não tenho rigorosamente nada (nem, aliás, tinha de ter) contra quem acredita no 44. E, por causa disso, acho lindamente que os amigos lhe prestem solidariedade. Escusam, no entanto, é de o fazer à conta daquele ridículo, estropiando a credibilidade da investigação judicial e a nota mental do Grândola, Vila Morena. Não é triste ficar do lado do 44, é triste, em nome disso, montar um circo em frente a uma prisão e dar combustível às novelas dos canais noticiosos mais sensacionalistas. Já aqui disse uma vez e digo novamente: não acho nada que os amigos se vejam no hospital e na prisão. Acho que o miserabilismo convida muito mais gente a entrar-nos casa dentro que o sucesso. Por isso, custa-me, honestamente, a crer que alguém leve a sério a tenda armada em Évora este fim de semana. Faz-me lembrar o Isaltino e as eleições. Ou a Fátima Felgueiras e as entrevistas no Brasil. E isso, enfim, nunca é um bom sinal.

1 comentário:

  1. Ai menina, em relação a este povo - ao qual também pertenço - já não sinto nada...
    é o mesmo que veio gritar pelo juíz do processo casa pia: o Rui Teixeira. até testos de panelas bateram nas ruas. nesse dia morreu-se-me tudo. esquece: não tentes perceber. não queimes neurónios com essa merda.

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