segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Pode piorar!

Na televisão, agora, está a dar a casa dos segredos. Pelos vistos, há uma nova casa dos segredos. Há homens de fato e gravata e senhoras de vestido de cabedal a discutir a imbecilidade de quem gosta da casa... enquanto vêem a casa!

Vou mandá-lo contra uma parede!

Voltamos à saga. Haverá, prometo, sempre coisas. Isto está à pinha de fenómenos. Estou aqui sentada desde as onze horas da manhã. São quatro e meia da tarde. Trouxe almoço. Comi aqui. Por isso, desde as onze, levantei-me apenas para fazer chichi e ir à biblioteca digitalizar uma coisa que não demorou mais de meia hora. Há um telefone que ainda não parou de tocar. E quando digo não parou, é não parou. Nunca foi atendido. E nunca desligaram, do lado de lá. Está alguém desde as onze da manhã, pelo menos, a ligar para aqui. Ou então o telefone está avariado e ninguém o cala. Tornou-se um barulho de fundo, que se junta ao programa do Goucha de manhã e ao da Fátima Lopes à tarde (sim, a sala dos professores tem uma televisão... ligada na TVI). Não há comando, nem conseguimos entrar na cabine onde está o telefone. Não posso calar a televisão, nem destruir o telefone. Está aqui uma colega que diz que o telefone nos enlouquece. Para evitar enlouquecer, fala enquanto escreve. Sabem aquelas pessoas que não conseguem ler em silêncio, para dentro? Esta colega é assim! O que me eleva os níveis de stress para patamares estratosféricos.  Eu não me queixo. Não vale a pena. Beberico a minha água. Como uma bolacha de água e sal. Preparo aulas. Actualizo as mil plataformas em que nos mandam pôr o curriculum e tento avançar com artigos pendentes. Tirando isso, abro a boca e sonho com a minha cama. Às segundas feiras, sou violentamente arrancada da minha cama e dos braços do meu rapaz. É um trauma que só supero aos fins de semana. É complicado. Espero ao menos ficar rica com o que me vão pagar. Era o mínimo. Mas, vai na volta, se calhar nem isso!

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sou uma fraquinha

Acordei às seis da manhã. Fintei o despertador e levantei-me cinco minutos depois. Estava escuro como breu em Coimbra. Tomei um banho, vesti-me, tomei o pequeno almoço, pincelei a cara e saí. Apanhei uma puta de uma fila ao chegar ao Porto. Tinha esperança de poder adiar a saída de Coimbra um quarto de hora, mas estou a ver é que tenho de a acelerar. Apesar de tudo, cheguei a tempo, até porque não chovia e não houve acidentes. Dei duas horas de aulas. Trabalhei. Podia ter dormido uma sesta no carro, mas tive medo de ser apanhada por algum aluno e nunca mais conseguir mandar-lhes um berro. São do primeiro ano. Chamam-me "Stôra", que é uma coisa que me tira do sério. Tenho uma aula para dar até às nove e meia. Mais papéis para assinar no fim. Devo chegar a casa lá para as onze. Tenho frio, que é uma coisa que se apodera de mim quando tenho sono. Estou cheia de frio. Tenho um casaco vestido e estou toda arrepiada. Aqui anda tudo de manga curta, portanto, eu não tenho frio... eu tenho sono... aquele sono imenso que me dá frio e rabugice. Uma pessoa tem de trabalhar e ganhar a vida, há quem esteja muito pior, mas eu, que vim cá dar três horas de aulas, das 9h00m às 11h00m e das 20h30m às 21h30m, acho isto tudo um bocado surreal. Trouxe trabalho, mas dou-me mal em open spaces em que só há mulheres a falar das modas. Devia ter escrito mais um bocado da anotação ao Código Civil. Só consegui enervar-me. Estou cheia de sono, já disse? Estive aqui nove horas e meia à espera para dar uma aula. A 11 alunos. Comecei hoje e já não me apetece brincar mais. Tenho muito que fazer em casa. Doutorei-me. Era suposto reconhecerem que agora as minhas noites precisam de ser bem dormidas. Está tudo tolo! Mesmo eu! A prostituição intelectual é do caracinhas!

Pequena R. sugere ao leitor

Spaghetti Notte
Porque sim. Sem mais. À confiança.

Carlos, o Alex.

Não tinha nada que esperar o que quer que seja do homem, mas a verdade é que esperava outra coisa. Esperava silêncio. Tenho-o por inteligente. Sempre acreditei na sua competência. E isso bastava-me. Agora, deu-me demasiada informação. Mostrou-me um certo complexo de inferioridade por ter sido o "Saloio do Mação". Da imagem que tinha feito dele, esperava que a alcunha o orgulhasse. Sucede que esses orgulhos são visíveis no que se cala. Repristinar à toa uma coisa assim soa a bacoco. Pode ter-lhe apetecido dar uma chapada de luva branca a alguém, mas este tipo de frase faz-me logo pensar numa luva puída, muito gasta, é certo que honesta, mas acima de tudo incomodada pela sua origem, muito menos boa do que esforçadinha. E os esforçadinhos armados em coitadinhos enervam-me. Deu-me pena. Ser filha de porqueiro, ter estudado, viajado e crescido muito pelo que ele é, fez-me enxergar com outros olhos, mais serenos, essa coisa do que é a nossa história. Custa-me um bocado quem a nega. Fico sempre com a sensação que se embadalhocam tanto mais quanto mais de mão passam na história, numa tentativa, tão tola, tão tola, de, aos seus olhos, parecerem melhores. Como se isso se medisse por aí. Depois, bem, depois descambou e lembrou-se de "piadar" convicto de uma inocência que um homem como ele não pode ter. À mulher de César não basta ser séria, é preciso parecer séria. Dávamos todos de barato que tem contas para pagar, que trabalha aos sábados (quem não trabalhar, que levante a mão) e que não tem amigos perdulários. Não era preciso aquele número. Deviam ter-lhe ensinado que vale mais cair em graça do que ser engraçado. Pior, nem sequer foi engraçado. Esperava outra coisa. Tanto tempo depois, tantos episódios passados, escusava de ter-se tornado numa personagem de revista. Está a um telefonema de fazer férias na ilha da Caras, é a sensação que dá. E não lhe cai bem. Tenho pena. Esperava outra coisa. Esperava que se mantivesse mudo e quedo. Era isso.